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Conto - A lenda da Madalena Sem Rosto

  • Foto do escritor: Mystika Ai
    Mystika Ai
  • 23 de fev. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 26 de jan. de 2023

AVISO DE GATILHO! - Suicídio.


Maria Madalena era uma mulher a frente do seu tempo. Desde criança sempre soube que não nasceu para ser a bela, recatada e do lar.

Era uma mulher que não media as palavras e falava o que precisava ser dito, doa a quem doer.

Mesmo em idade de se casar, continuava solteira, pois preferia dedicar sua vida aos seus estudos. Entretanto, isso não a impedia de ter uma vida sexualmente ativa.

De vez em quando, era possível vê-la falando com a lua, com as plantas, os animais e, às vezes, “sozinha”.

Certo dia, foi vista em uma noite de lua cheia, dançando nua, em volta de uma fogueira.

“Bruxa, vadia, depravada, profana”, eram alguns dos comentários que circulavam pela pelo bairro que morava.

Com o novo governo instaurado, começou a ficar cada vez mais perigoso ser quem ela era. Com medo, foi ficando cada vez mais reclusa, em uma tentativa de se proteger.

Até que um dia, parada em frente a uma Igreja, sentindo-se meio perdida, sem fé e sem esperança, ela pegou seu espelho de bolsa, olhou-se e não se reconheceu. Madalena havia perdido sua essência, sua identidade. Em surto, ela subiu até a parte mais alta da igreja e se jogou. Dizem que seu corpo foi encontrado olhando para o espelho que se encontrava todo estilhaçado.

Após sua morte, boatos começaram a se espalhar. Pessoas diziam que viam uma mulher sem rosto, em trajes profanos, vagando pela Igreja. Sua história começou a se espalhar e ela pode ser vista em Igrejas de outras cidades, sempre a procura da sua identidade perdida.




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Eu nasci em família cristã católica, fiz comunhão, participava do coral da Igreja e frequentava a missa.


Com o passar dos anos, chegada a adolescência, ali pelos 13 anos de idade, minha forma de me expressar esteticamente foi mudando e não atendia mais ao padrão de trajes impostos pela Igreja. Até que um dia, um padre me olhou de cima a baixo com desprezo e reprovação, sua expressão dizia que eu não era bem-vinda naquele espaço.


Essa série de fotomontagem, realizada como parte da avaliação final da disciplina de fotografia 2 do curso de Artes Visuais, foi inspirada nessa outra arte experimental que eu fiz para a disciplina de Processos Gráficos.



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Eu precisava realizar um ensaio híbrido para a disciplinas de fotografia e decidi transformar essa imagem acima em uma série.

O objetivo inicial era fotografar Igrejas no horário do meio dia, para registrar o Sol entre as torres, trazendo essa conotação de que a sexualidade da mulher também é algo sagrada, no sentido de ser essencial para a saúde e bem-estar da mulher, tanto quanto muitas pessoas consideram a espiritualidade algo fundamental para a existência humana. Entretanto, eu não tinha tempo para conseguir realizar as fotos das Igrejas baseado nesse conceito. Não tinha tempo para esperar o Sol ideal e o alinhamento da linha do horizonte. Ainda assim, quis manter a ideia da intervenção desse ensaio sensual, que foi realizado na disciplina de fotografia 1 e faz parte do pack "Fashionist Bitch", nas fotos das Igrejas, pois a sexualidade da mulher não é bem vinda nas Igreja, em sua grande maioria.

Durante viagens a trabalho e de férias, fotografei várias Igrejas, algumas localizadas em São Paulo, Florianópolis, São José, Garopaba e Porto Alegre, que faziam parte do meu trajeto de conhecer pontos turísticos das cidades. A maior parte das fotos usei a grande angular do meu Samsung S20, pois não tinha distância suficiente para captar com a comum e ficou difícil equilibrar a linha do horizonte, pois muitos dos lugares, eu precisei fotografar com pressa por estar em regiões onde ocorrem muitos assaltos. Coletei todas as fotos das Igrejas, organizei em uma pasta e selecionei as que esteticamente conversavam mais. Editei utilizando o aplicativo "Snapseed". Trouxe uma estética mais sombria, pois o cristianismo foi construído em cima de muita dor, sangue e violência.

Após a edição, coloquei-as no photoshop, para acrescentar a intervenção com o outro ensaio sensual. Eu queria ter utilizado mais poses, mas acabei priorizando outras coisas e só tive tempo para editar uma pose.

Decidi na edição, remover o rosto, pois eu não queria que a obra fosse sobre mim, mas sobre todas as mulheres que tem sua sexualidade reprimida pela Igreja.

Com o resultado das fotomontagens, uma história começou a surgir na minha mente, sobre quem era essa mulher. Foi assim que surgiu a "lenda da Madalena sem rosto", uma história fictícia, que em algum pontos se cruzam com a minha, mas que felizmente na vida real, eu sobrevivi aos meus surtos e, continuo me descontruindo e me despindo de tudo que me fez/faz esquecer de mim mesma.

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