♱ DESEJOS PROFANOS EM SEXTA-FEIRA SANTA ♱
- Mystika Ai

- 18 de abr
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Sabe do que mais gosto?
Dos seus dedos encantados
— feitiço antigo —
entre minhas pernas,
do meu quadril consagrado no seu
como oração que não se nega.
Enquanto você segura meu corpo — firme —
para que eu não fuja
desta missa
que é meu próprio desejo.
Confessas em meus ouvidos
sussurros de pecados,
palavras que ainda não consigo admitir em voz alta,
pois o céu julgaria
(e o céu é uma cela),
mas o inferno já decorou.
Me fazes sentir suje, imoral, herege,
enquanto me derramo em êxtase profano.
Amém.
E ainda assim,
mesmo não conseguindo me livrar
de todas as vozes que querem me crucificar,
sinto essa sede que nenhum cálice saciaria,
sinto essa fome que nenhuma hóstia mataria —
não quero parar.
Toca-me mais.
Até eu secar.
Drena todo meu desejo
até a última comunhão,
até que nenhum Pai Nosso
eu consiga gritar.
E quando eu emorecer,
quando minha cabeça já não me segurar,
e eu virar altar,
usa-me.
Profana-me.
Preenche-me.
Faz de mim tua hóstia,
tua via sacra de prazer.
Faz-me gemer
como um coro de anjos caídos.
Beija-me como Judas,
morde-me como os demônios,
faz arder minha pele
como a fogueira da inquisição.
E derrama-te sobre mim
— comunhão invertida —
como óleo de unção,
como sangue de santo:
adentra meu reino proibido,
onde vivo a sonhar
e, em pecado,
me permito desejar.
Um dia renasço
e grito:
meu prazer é meu altar.
Nenhum deus que me queime
merece meu fogo.
Nenhum céu que me prenda
merece meu voo.
Sou corpo-terra-templo,
e meu desejo
— por mais profano —
sempre será
a única oração
que não me nego.

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